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Como o smartphone afeta a qualidade do sono


Se a tecnologia digital surgiu para melhorar nossas vidas, então, por que estamos acordando tão cansados nos últimos anos? Além de não ajudarem a melhorar nosso sono, os aparelhos eletrônicos estão piorando a qualidade de nossas noites. Por que isso acontece? Será que dá para jogar toda a culpa na tecnologia?  

É claro que há o fator disciplina: meia-noite deveria ser hora de estar na cama, e não hora de curtir fotos no Instagram e de compartilhar gifs e memes no Facebook. Eu, particularmente, confesso que a falta de disciplina é o principal motivo das minhas noites mal dormidas.

Entretanto, há pesquisas demonstrando que a tecnologia, por si só, pode atrapalhar bastante o processo do sono, inclusive daqueles mais disciplinados que se deitam antes das 23h. Isso porque praticamente todos nós utilizamos celulares algumas horas antes do sono e esse uso pode ter efeitos duradouros.

Um dos problemas mais conhecidos é a "luz azul" emitida pelas telas dos eletrônicos. Esse tipo de luz não é comumente encontrado na natureza no período noturno. Após milhares de anos de evolução humana no ambiente natural, o nosso cérebro desenvolveu a habilidade de produzir e liberar melatonina justamente a partir da falta de luz azul. Lembrando que a melatonina é um hormônio que faz parte do importantíssimo ritmo circadiano, que é o mecanismo responsável pelos ciclos biológicos dentro das 24 horas do dia, tais como o sono, a vigília, a renovação das células e até a digestão. Em outras palavras: é o nosso relógio biológico. O ritmo circadiano é tão importante que rendeu o prêmio Nobel de 2017 a três cientistas que fizeram descobertas importantes sobre esse mecanismo. A luz azul emitida à noite pelo celular induz o cérebro a agir como se fosse dia, ou seja, faz com que ele não produza melatonina necessária para uma noite de sono satisfatória.

Alguns celulares oferecem um recurso que diminui a luz azul da tela: ao clicar no ícone deste recurso, a tela fica com a coloração mais amarelada, porém a luz passa a afetar menos o nosso ciclo circadiano. Essa, talvez, seja uma solução para o problema da luz azul, mas ainda há outros problemas causados pelo celular. Uma pesquisa de 2008 mostrou que a radiação liberada pelos aparelhos móveis tem o potencial de atrapalhar o início do primeiro estágio do sono e de diminuir o tempo de duração dos estágios mais profundos, justamente aqueles em que o cérebro faz a sua restauração.

Há ainda os problemas de ordem psicológica. Estamos acostumados a ver o smartphone como uma fonte permanente de novidades, graças às suas notificações em aplicativos de comunicação e de redes sociais. Então, o simples fato de termos a ciência de que há um smartphone ligado na cabeceira da cama faz com que o nosso cérebro se mantenha em alerta. Já escrevi em uma coluna passada que os designers contratados pelas empresas de tecnologia desenvolvem mecanismos viciantes nos aplicativos de forma proposital, justamente para explorarem essa predisposição humana à busca constante por novidades. Talvez por isso que uma pesquisa de 2015 realizada por cientistas britânicos descobriu que os celulares afetam negativamente o sono de crianças mesmo quando os aparelhos estão desligados.

No fundo, sabemos que a privação do sono traz consequências terríveis para o corpo humano, como o cansaço e a irritabilidade no dia seguinte ou, num prazo maior, aumento de riscos de obesidade, diabetes, hipertensão e doenças cardíacas. Então, por que continuamos deixando que os aparelhos eletrônicos nos causem tamanho sofrimento?

Eu, como um típico exemplar de ser humano que sofre de indisciplina e de insônia, resolvi me perguntar isso: por quê? Sinceramente, não sei a resposta. Talvez, seja a falta de uma autocrítica. Talvez, eu só precise de um "empurrãozinho". E é exatamente isso que vou fazer nesse momento: a partir dessa noite, vou transferir o tablet do criado mudo para o escritório e vou deixar o celular carregando lá na sala de estar. Para compensar a falta do alarme do smartphone, vou comprar um aparelho despertador tradicional, de preferência um daqueles com relógio analógico, de ponteiro. O truque aqui vai ser dificultar ao máximo o meu acesso à tecnologia durante a noite.

E assim ficou decidido: 2018 será, para mim, o ano da noite bem dormida. E não haverá foto com filtro no Instagram, vídeo de gatinhos no Facebook ou piadas em áudio no Whatsapp que me impedirá de alcançar essa meta. A tecnologia está aqui (ou deveria estar) para nos ajudar, não para nos dominar. Que este seja um ano com menos luz azul à noite, mais melatonina e melhor qualidade de vida. Daqui a alguns meses, volto a tratar desse assunto aqui na coluna e conto para vocês como foi o resultado do experimento. Até lá!


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